sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Velhice

Nome doce e delicado
que merece tanto carinho
pois são pessoas humanas
que precorreram um caminho

um caminho com sacrifício
com muitos dias de pranto
pois é assim a nossa vida
rindo gemendo e chorando

lutar pela vida fora
desde o romper do dia
para chegar a velhice
com uma certa alegria

muitas vezes não acontece
por diversos problemas
sentem-se desorientados
pensam não valer a pena

a nossa terceira idade
tem falta de carinho
por aquilo que eu vejo
só no sítio do piquinho

se sentir desprezado
deve ser duro sofrer
trabalhando toda a vida
acabando por morrer

muitos não são compreendidos
pelas ideias que tem
nunca tiveram auxilio
nem apoio de ninguém

enquanto são novos
pois tudo é diferente
trabalharam sem parar
são amigos de toda a gente

mas depois chega a velhice
todos ficam aborrecidos
os filhos não querem saber
pois já estão compremetidos

ficam abandonados
sem palavra de amizade
sentem-se tristes e angustiados
esta é a única verdade

pois se alguém lhes fala
para eles é uma alegria
sentem logo amizade
da sua querida família

ser velho e ser desprezado
é um terrível doença
pois nós não damos por isso
nem nos passa pela cabeça

eles gostam de carinho
como se fossem crianças
parar e falar com eles
tudo isto são lembranças

muitas vezes um velhinho
nós podemos ajudar
até as vezes pelo caminho
parar e cumpri mentar

pois é um gesto bonito
que eles dão o valor
não é dar bens materiais
 mas sim um pouco de amor

mas o que existe pior
é quando ficam acamados
pois sentem-se rejeitados
pensam estar desprezados

muitos não tem carinho
da família onde vivem
pois vivem ameaçados
isto é o que eles dizem

muitos vão para os lares
para acabarem de morrer
pois existe muita família
que nunca mais os vão ver

porque não querem velhos
e não querem ter maçada
vão pedir para enternalos
ficam com a vida arrumada

e lá vão aqueles tristes
com muitas lágrimas no rosto
por tudo o que fizeram
morrem logo de desgosto

outros ainda muito novos
de doença foram afectados
pois estão muito grave
tem de ser enternados

muitas vezes acontece
de estarem a melhorar
quando chega o dia da alta
a família não os vão buscar

isto é a realidade
e está sempre acontecer
outros não visitam os pais
que os irmãos não se podem ver

e fazem se muito amáveis
para os vizinhos visitar
e desprezam a família
que está em primeiro lugar

quando chega a morte dos pais
ai que grande confusão
está na mente os bens
nem que seja um tostão

na vida não querem saber
nem sequer para visitar
 mas no dia do funeral
estão em primeiro lugar

muitos  para serem vistos
e dizer tudo está bem
mas durante a velhice
não visitam pai nem mãe

há dias aconteceu
de uma vizinha lamentar
que lhe tiram o dinheiro
e queria se eternar

é a própria família
que não tendo rendimentos
tiram o dinheiro a velhinha
e depois é só lamentos

agora daqui para a frente
penso que vai piorar
com a  crise que está
os velhos não vão parar

muitas vezes os velhinhos
são tratados com dureza
dão-lhes o comer jogado
e não os sentam a mesa

quando eu era pequena
tinha uma vizinha velhinha
que lhe davam o comer
como se fosse para uma galinha

jogado em cima dum muro
e lá ficava sozinha
não ia a casa do filho
que a casa era fina

o mundo dá muitas voltas
e agora aconteceu
essa família está pobre
e esmolas já recebeu

também lhe dão no muro
como a mãe fazia
este mundo é para todos
um mundo de fantasia

mas quem semeia
um dia vai receber
não viva de ilusões
que tudo volta acontecer

filhos amai os vossos pais
até depois de velhinhos
pois eles tudo merecem
voltam a ser pequeninos

qual é o filho que não pensa
o que os pais na vida fizeram
muitas vezes sem haver
fazem da vida um mistério

dão voltas a imaginação
para tudo resolver
choram muitas vezes escondidos
para ninguém perceber

o pensamento dos pais
está ao filho ligado
em toda a hora e momento
e tudo faz em seu agrado

mesmo os mais pobres
querem o melhor para os filhos
não sei como se despreza
os seus melhores amigos

ainda há dias diziam
que está uma senhora eternada
mas a filha não a vai visitar
para não ficar envergonhada

isto no nosso Machico
mas que pense ela bem
foi a mãe  que lutou por ela
para ter a vida que tem

mas ela já tem filhos
e deles vai receber
as sementes deitadas a terra
um dia irão crescer

os velhos são sabedoria
que muito tem de ensinar
foram eles que lutaram
e estiveram a trabalhar

o mundo está enganado
com esta evolução
deixam de ter valores
e entram na escravidão

quando as pessoas contam
aquilo que passaram
apertei a minha vida
e os meus filhos me desprezaram



tantos filhos que eu tive
e estou aqui sozinha
pois as vezes ainda chega
ao pé de mim uma vizinha

muitas vezes vão as vizinhas
para as magoas contar
muitas vezes são os netos
que já estão amaltratrar

amai os vossos velhinho
com amor e alegria
vê de neles uns amigos
era o que Jesus fazia

 tinha muito para contar
mas estou um pouco cansada
mas a história é sempre igual
e não vai mudar em nada

façam sempre o bem
que um dia vão receber
fiz tudo pelos meus pais
sem nunca me arrepender

eles são os nossos amigos
do fundo do coração
deram a vida por nós
sem nunca haver exceção

Machico,23 de Agosto 2012

Lídia Aveiro

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Rua do Ribeirinho

A rua do ribeirinho
ficou de recordação
era a rua que eu passava
com maior descontração

eu andava na escola primária
na rua da estacada
não havia movimento
era uma rua parada

e ao sair ao recreio
tudo queria saltar
brica vamos mesmo na rua
com a empregada a vejiar

mas no final das aulas
íamos pelo ribeirinho
pois dava jeito saltar
no passeio do caminho

então havia um quintal
que tinha uma campainha
tocávamos e fujiamos
e lá a criada vinha

era branca e de avental
tinha um sinal no nariz
ficava arreliada
mas era a sua cruz

a quinta era bonita
com cadeiras para se sentar
uma mesa de jardim
nós ficávamos admirar

aos lados tinha flores
e em cima um corredor
tudo estava arrumado
tudo feito com rigor

já passaram 50 anos
e tudo está diferente
agora está abandonada
e já não existe gente

a erva já tomou conta
das pedrinhas do calhau
as pessoas vão morrendo
e tudo volta a ficar mau

agora quando passo
olho sempre para lá
eu penso como tudo fica
e o estado em que está

ali vivia gente fina
diferente de toda a gente
era o Sr António
que fazia de agente

as pessoas entravam e saiam
com as linhas e o bordado
todas iam com a missão
de fazer o seu recado

depois de tantos anos
tudo muda derrepente
morrem os donos
fica tudo para os parentes

mas todos seguem seu destino
e custa muito dinheiro
para manter as casas
deixam ficar com palheiro

há coisas que não esquece
de quando somos crianças
coisas simples que fazíamos
e que temos na lembrança

quando vinhamos da escola
contávamos muitas anedotas
umas claro mais simples
e outras muito mais tortas

subíamos a louvadinha
para as provas verificar
as que tinham erros
tratávamos de rasgar

depois eu ia estudar
com a minha prima Maria
ás vezes ao pé do trigo
e muito agente se ria

nessa altura fiz uma quadra
ao meu tio inglês
Maria é que se lembra
e diz que foi eu que fiz

talvez já tinha jeito
mas não dava importância
pois de certeza tinha  jeito
mas são coisas de criança

agora tudo mudou
a rua está movimentada
a escola já fechou
e já tem outra morada

com o tempo tudo passa
como passa a primavera
tudo está diferente
e nada é o que era

olhava para a minha escola
com grande saudade
onde eu aprendi a ler
com a minha ingenuidade

toda a criança bela
tudo se torna verdade
os adultos ocultavam
a vida e a realidade

olhava para a minha professora
com respeito e carinho
era já de certa idade
e falava devagarinho

A D. Maria José Almada
A mãe do menino Tiago
todos eram  respeitados
pois todos eram fidalgos

então a minha mãe 
ensinava a respeitar
os nossos Superiores
estavam em primeiro lugar

Bom dia sr professora
era como tínhamos que dizer
e estava correto
pois respeito tinha de haver

e dávamos um beijo
ainda estou lembrada
era uma cara mole
e tinha uma papada

a escola era branca
com os tapas sois verdes
as carteiras castanhas
e os mapas nas paredes

e havia a empregada
era a senhora Mariazinha
magrinha e educada
fazia o que podia

no recreio a correr
pelas escadas sem parar
para ir a casa de banho
e depois para brincar

era na parte da manhã
que a escola começava
quando vinha sas enfermeiras
já tudo se assustava

e quando vinha os senhores
dar óleo de figado de bacalhau
era uma desgraça
pois o óleo era mau

e assim tudo passou
agora é tudo diferente
cada um com o seu tempo
e todos vivem contentes

e assim se passou
muito há para contar
todos tem sua história
é preciso recordar


machico 13 de Agosto de 2012

Lídia Aveiro