A senhora Laurinda
era a nossa vendeira
que estava dentro do balcão
a semana inteira
quando eu nasci
e comecei andar
ia com a minha mãe
as compras buscar
ora na altura dos anos 50
não havia muito para escolher
havia as vendas
tudo tinha para vender
então aqui perto de casa
havia a sr Laurinda
que todos iam a venda
e compravam o que lá tinha
era o pão,e massa
arroz milho e feijão
açúcar café e azeite
tudo para a ocasião
tudo o que lá havia
podíamos comprar
que era fiado
para no fim do mês pagar
Asr Laurinda tinha um livro
cada um com o seu nome
onde marcava as compras
e o fraguês tinha um rol
mas quando íamos as compras
tínhamos de o rol levar
para bater tudo certo
para nada poder falhar
e quando havia o dinheiro
o rol era para somar
para darmos o dinheiro
para poder descontar
muitas vezes não chegava
para pagar toda a conta
ficava para o mês seguinte
mas a folha era outra
mas havia muita gente
que não era correta
deixavam os calotes
ponham a vendeira a miséria
a sr Laurinda muito se agoniou
pois tinha contas para pagar
e o dinheiro não chegou
tinha que se envergonhar a
a pedir o que era seu
pois chegava a carga para a venda
e o dinheiro não recebeu
muitas vezes foi pedir
a outros para pagar
a mercadoria
que lhe estava a chegar
ela bem conhecia
os pangeiros que lá tinha
que só queriam levar
mas dinheiro não havia
a venda abria cedo
para vender o pão
fechava a hora do almoço
sempre com muita confusão
havia sempre gente
a bater a toda a hora
ela não podia almoçar
mas não mandava embora
tudo o que faltava em casa
era só ir buscar
a sr Laurinda era boa
e não ia maltratar
também havia o quartinho
ao lado da mercearia
era o quartinho do vinho
tinha muita alegria
era vinho e cerveja
brandyse aguardente
genebreque era para as dores
tudo ficava contente
mas dava muitas brigas
quando as mulheres chegavam
para chamar os maridos
que na bebedeira lá estavam
mas muitas vezes aconteceu
da venda fechar
os bêbados não saiam
pois queriam conversar
conversar e beber
era essa a discussão
que gastavam o dinheiro
e depois faltava o pão
mas ao lado do quartinho
havia a sapataria
que o mestre Manuel
era marido da sr Laurinda
muita gente trabalhava
muitos sapatos faziam
tinha os empregados
trabalhavam por medida
faziam toda a qualidade
tudo com perfeição
botas de homem e mulher
e sapatos para a ocasião
mas o mestre Manuel
quando começava a beber
era 15 dias seguidos
só vendo para querer
agoniava a mulher
ela sempre calada
levava com paciência
aquela sua jornada
ele aproveitava a bebedeira
para a mulher gabar
e também dava recados
para as pessoas lhe pagar
um dia estava bêbado
e ao vinte e sete cantou
uma cantiga de recados
que o cunhado não gostou
eu quando vou ver a bola
eu sei quem joga e quem mete golo
o cunhado do coração
vejie o que vai no rol
as vezes dava zaragatas
mas tinha mesmo que ser
pois iam buscar as compras
sem o dinheiro haver
depois quando começou
os novos super mercados
as pessoas abandonar vendas
deixando tudo atrasado
muitas vezes a sr Laurinda
foi a gaveta tirar
o seu dinheiro
para irmos a outra venda comprar
quando ela não tinha
não queri ficar mal
e dava o seu dinheiro
que isso não é normal
muito sofreu
para a todos agradar
muitos deixaram calotes
e nunca foram pagar
ainda estou lembrada
de ver a sr Laurinda somar
as contas dos fregueses
eu estava apreciar
aprendi a fazer
sempre com muita atenção
a prova dos 9
guardo a recordação
nunca mais me esqueci
e ainda sei fazer
agora a malta jovem
nem disso quer saber
e assim fica para a história
coisas do passado
que agora já não existe
e dava bom resultado
asr Laurinda não tinha filhos
foi madrinha de muita gente
todos lhe pediam favores
ela ficava contente
era muito boa
foi a mãe de muita gente
que muitos matou a fome
estava sempre sorridente
e quando as pessoas não tinham
dinheiro par o doutor
pediam para emprestar
as vezes com muita dor
tempos difíceis de crise
foi nesse tempo passado
que não havia nada
era tudo emprestado
agora morreu velhinha
e estava sempre a rezar
muito ajudou para a Igreja
Deus a vai recompensar
agora depois de 7 anos
de estar tudo fechado
apareceu atasca da Laurinda
que vai dar bom resultado
agora é o bar da poncha
e estou muito contente
por ver com utilidade
um lugar que a gente sente
parece estar denovo
a voltar a minha infância
o lugar por onde andei
quando eu era criança
e assim fica estas quadras
para poder recordar
tinha muito para escrever
mas estas já vão chegar
quantos agora queriam
que houvesse um Laurinda
para voltar a fiar
ficavam felizes da vida
Ela foi a mãe dos pobres
e a muitos ajudou
já partiu para outra vida
e tudo por cá ficou
guardo com muito carinho
s contas que me ofereceu
é um rosário bonito
pois foi as suas mãos que medeu
também tenho umas fotos
que foi eu que as tirei
guardo com todo o carinho
pois a tenho como uma mãe
machico,2 de Fevereiro de2012
Lídia Aveiro